4 de outubro de 2018

O Ciúme

De acordo com os dicionários existe na nossa Língua um substantivo que define de forma clara o receio de certos afectos não serem exclusivamente para nós: trata-se da palavra Ciúme.

Mas, mais do que uma palavra, é um sentimento. E, para alguns, é também o oitavo pecado mortal. Lidar com o ciúme não é fácil, sendo que, muitas vezes, se não o conseguirmos fazer acabamos por condicionar o nosso dia-a-dia e, no fim, toda a nossa vida. O sol desaparece do horizonte, as noites prolongam-se indefinidamente e a razão acaba num qualquer abismo.

O Peste é o maior ciumento que conheço. Habituado desde o primeiro minuto a concentrar em si toda a atenção, não admite que, por instantes, tal possa não acontecer. Sentei-me há pouco no sofá, aproveitando a folga para descansar. A Dorita, mais rápida, deitou-se no meu colo a dormir. E, claro, o Peste tentou repetidamente tirá-la de lá, sobretudo porque aquele é o lugar dele. Tentativas frustradas, ficou com cara de poucos amigos e, desde então, ainda não parou de se passear pela casa a miar alto e bom som, como quem clama as agruras da vida aos deuses.



É uma vida difícil, a deste gato. Quanto a mim, resta-me imaginar o que lhe passará por aquela cabeça nestas alturas...

20 de agosto de 2018

Muito Calor

O verão nunca é fácil de viver para quem tem o corpo coberto de pêlos. O calor aperta e as nossas preocupações também: temos de garantir que a casa fica fresca e que eles têm sempre água disponível, por exemplo.

Recentemente fizémos duas aquisições nesse sentido: uma fonte de água e um climatizador. Tudo pelos nossos pequenos felinos!!!

Mas eles são muito peculiares. Só gostam da fonte quando está desligada e olham de lado para o climatizador. Não importa, queremos é que estejam felizes!

Nem que para isso venham encostar-se a nós enquanto vemos no noticiário que estamos em pleno alerta devido às temperaturas elevadas...


Como se pode explicar isto?

27 de maio de 2018

Hora do banho!

Sempre gostei de observar o Peste enquanto ele toma banho. Talvez seja por vingança, não sei, tendo em conta que ele faz o mesmo comigo: raramente consigo estar no duche sem ter um gato sentado a olhar para mim no quarto de banho.

Os gatos são animais extremamente asseados e perdem umas horas valentes das suas vidas a lavar-se. E eu faço questão de ficar para ali a olhar a forma metódica e dedicada como o Peste o faz.



Há uns dias cometi a ousadia de me aproximar demasiado. Ele, dando corpo ao seu espírito de camaradagem, terá pensado que eu próprio estaria a precisar de uma banhoca e começou a lamber-me o nariz. No início ri-me muito, aquilo teve piada. Mas, no fim, reparei que ele foi tão minucioso que me arrancou uma fina camada de pele e deixou-me a sangrar.

Apesar de ter ficado muito orgulhoso do acto humilde e desinteressado do meu gato, ficou logo ali decidido que não se voltará a repetir: eu tomo o meu banho, ele toma o dele!

8 de abril de 2018

Gatos Gordos

Os nosso pequenos são muito dedicados à família. Quer o Peste, quer a Dorita gostam e fazem questão de passar tanto tempo quanto possível connosco. Já falei disso em posts anteriores: são verdadeiras lapas, estão sempre onde nós estamos.

Foi e creio que será sempre assim. Mas, na verdade, houve um período num passado mais ou menos recente em que eles realmente andaram desaparecidos. Durante três, quatro dias ninguém os via cá por casa. Estarão mais independentes, pensámos. É uma fase, é passageiro.

Apesar disso, mantinham um comportamento mais ou menos normal. Pelo menos o Peste, já que a Dorita estava um pouco mais a leste: curiosamente, havia ganho um interesse fora do comum pelo escritório da casa - se a porta porventura estivesse fechada, ela miava desalmadamente até que nós a abríssemos novamente.  Nunca tal tinha feito e nunca mais o voltou a fazer.

A razão disso viemos a descobrir mais tarde. Nessa altura, o Peste tinha alterado a ração. Por motivos de saúde, o veterinário tinha aconselhado uma comida diferente, devendo deixar a actual. Mas nós tínhamos ainda uns três sacos da ração antiga guardados no armário do escritório, até conseguirmos garantir a entrega numa associação de resgate ou a oferta a algum amigo.

Eles, espertos, vieram a encontrar esses sacos. Não contentes, fizeram questão de rasgar um deles e andavam, dia e noite, a banquetear-se como se a sua vida dependesse disso. E nós na total ignorância...

O Peste (talvez o mentor do saque) disfarçou muito bem - se fosse por ele nunca teríamos chegado à verdade. A Dorita, insaciável, deu demasiado nas vistas e acabou por deitar tudo a perder.

Terão sido os melhores dias da vida destes dois artistas - pelo menos no que à barriguinha diz respeito!

25 de março de 2018

vingança

Duas noites fora de casa.
Nada mais, nada menos que um fim de semana prolongado.

Regressamos hoje, cheios de saudades das crianças. Já eles não dizem o mesmo...


Está chateado comigo. Ainda vai demorar umas horas até me perdoar...

11 de março de 2018

Declaração de Amor

Nesse dia, ele subiu para o meu colo, fixou-me olhos nos olhos e, emocionado, sussurou-me miaauu...

Teria uns três, quatro meses e fiquei com a certeza que estava perante o gato da minha vida.


4 de março de 2018

Medos

O meu gato nasceu em condições muito peculiares, digamos dessa forma. Perdido nas primeiras horas, achámos que só um milagre podia fazer com que o Peste tivesse direito a uma vida.

Em rigor, o mero facto de eu ter admitido à partida a possibilidade de ter um gato encerrava em si mesmo um milagre. Terá sido amor à primeira vista, sei lá. Como se costuma dizer, a família não se escolhe e eu gosto de pensar que nem eu escolhi o Peste, nem o Peste me escolheu a mim: há qualquer coisa de destino nisto tudo.

O engraçado é que as primeiras horas passaram e abriram espaço aos primeiros dias. O artista decidiu resistir e foi-se mantendo por cá. Nem nós acreditávamos que fosse possível. E, como não estávamos abrigados debaixo de toda essa fé, tínhamos medo. Qualquer coisa que pudesse porventura mexer com ele mexia connosco. Vivia-se em polvorosa naqueles tempos.

Um dia o gajo lembra-se de tirar uma sesta. Como sabemos, comer e dormir são coisas perfeitamente normais nos gatos. Mas o Peste era mais que um gato, era o todo poderoso e protegido bebé da ninhada. Estava ele a dormir refastelado e passam uns quantos minutos. Mais outros quantos. E outros. Começámos a achar estranho ele dormir tanto tempo e tão quietinho. E, recordo, nós tínhamos medo.

Estaria mesmo a dormir? Será que?...

Decidimos tirar a limpo e eu próprio tomei a liberdade de lhe pegar e ver se havia reacção. Não é spoiler: se não tivesse havido reacção eu não estaria aqui a contar a estória...

Ao sentir-se acordado repentinamente o Peste ficou, pela primeira vez de muitas, indignado comigo. Estremunhado, quiçá com um sonho fantástico interrompido absurdamente, abriu a goela e mandou um gritinho histérico demonstrando todo o desprezo pelo meu gesto. De seguida, dormiu outra vez e nós, descansados, voltámos à nossa rotina.

13 de fevereiro de 2018

surpresa!

Há cinco anos estava, por volta desta hora, a encher o bandulho num muito bem regado jantar. Entretanto, rodeado de amigos e copos, visitaria alguns bares na baixa do Porto, na já habitual peregrinação boémia que se iria esticar madrugada adentro.

No regresso ao lar uma pequena, muito pequena surpresa iria mudar a minha vida.

O Peste dava o seu primeiro rugido de leão.

11 de fevereiro de 2018

Frioridades

Nunca gostou de estar tapado.

Fosse o inverno mais rigoroso, estivesse o pior frio, o Peste nunca aceitou um cobertor ou uma manta para o aconchegar. Tem de estar sempre por cima. Na cama é impensável meter-se debaixo dos lençóis. Acredita piamente que ter um corpo peludo seja suficiente para manter a alma quente.

Mas a idade é uma coisa incrível que nos faz pensar melhor naquilo que queremos para a nossa vida.